"Diz a tarde: 'Tenho sede de sombra!' Diz a lua: 'Eu, sede de luzeiros.' Eu tenho sede de aromas e sorrisos, sede de cantares novos sem luas e sem lírios e sem amores mortos. Um cantar de manhã que estremeça os remansos quietos do pivor. E encha de esperança suas ondas e seus lodaçais." Federico Garcia Lorca

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26 de ago. de 2010

ADOLESCENTES COMEÇAM A BEBER CADA VEZ MAIS CEDO

http://veja.abril.com.br/noticia/saude/adolescentes-comecam-a-beber-cada-vez-mais-cedo

No Brasil, 80% dos adolescentes já beberam alguma vez na vida e 22% dos
jovens estão sob risco de desenvolver dependência de álcool. O que os pais
podem fazer?
Natalia Cuminale

Júlio deu o primeiro gole em uma bebida alcoólica aos 12 anos. O pai deixou
que ele experimentasse um pouco do vinho durante um jantar. Aos 14, ele já
conhecia os efeitos de um porre. E, aos 16, o estudante acumulava histórias
e vexames por conta do excesso de bebida. Desde uma briga com a namorada –
ele foi colocado para fora da festa por um segurança - até um striptease no
balcão de um bar. Mas, para os pais, o garoto é um santo. “Na frente deles,
em festas de família, eu só bebo moderadamente. Na vida real, para ser
descolado, todo mundo tem que beber”, diz.

Cerveja, vodca, vinho e uísque. Proibidas para menores de 18 anos, as
bebidas alcoólicas estão cada vez mais presentes na rotina dos adolescentes.
Sem limites e sem conhecimento dos pais, jovens em idade escolar têm acesso
livre aos drinques carregados de álcool em festas de formatura, baladas ou
bares. “Os jovens não enxergam a bebida como algo ruim por causa da
legalidade da bebida e do fácil acesso. O que eles não sabem é que o álcool
pode causar vários danos à saúde e também é uma porta de entrada para outras
drogas”, explica Ilana Pinsky, vice-presidente da Associação Brasileira de
Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead).


Apesar da legislação, a dificuldade para comprar uma bebida é quase
inexistente. Ao contrário, a compra é facilitada. Adolescentes frequentam
festas conhecidas como open-bar, em que alguns tipos de bebidas são
distribuídas livremente para quem pagou o valor da entrada. Organizadas por
empresas especializadas em eventos, essas festas são um paraíso para os
teens. “Em geral, eles não pedem o meu documento. Quando alguém pede meu RG,
mostro o documento falsificado”, conta Roberta, 16 anos, primeiro trago aos
14. Ela gasta R$ 50 de sua mesada quando vai a uma balada open-bar, com
direito a beber água, refrigerante, cerveja, catuaba, vodca e jurupinga (uma
espécie de combinação de vinhos) à vontade.

Os dados sobre o tema são preocupantes. Segundo pesquisa divulgada pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 80% dos adolescentes já beberam
alguma vez na vida e 33% dos alunos do ensino médio consumiram álcool
excessivamente no mês anterior à pesquisa. Outro estudo, realizado pela
Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) com universitários, mostrou que 22%
dos jovens estão sob risco de desenvolver dependência de álcool. Mais um
indício: de acordo com o departamento de comunicação dos Alcoólicos
Anônimos, o número de jovens em busca das reuniões aumentou
significativamente nos últimos cinco anos. “Era um cenário esperado. Os
jovens consomem muito álcool e há uma preocupação, do ponto de vista médico,
porque isso ocorre cada vez mais cedo”, diz o médico Arthur Guerra de
Andrade, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo) e autor do estudo do Senad.

Beber demais não é uma característica apenas do jovem brasileiro. Nos
Estados Unidos, uma pesquisa feita com adolescentes com idades entre 14 e 17
anos revelou que 39% declararam ter consumido álcool no mês que antecedeu o
estudo - número 11% maior do que encontrado no levantamento anterior,
realizado em 2008. Outro levantamento realizado no Reino Unido mostrou que
29% dos jovens com 16 e 17 anos afirmaram ter bebido alguma vez na vida
porque estavam entediados.

Companhia paterna - Quase metade dos adolescentes experimentou álcool pela
primeira vez porque os pais ofereceram. “Promover festas de 15 anos com
álcool é algo extremamente equivocado. Jovens menores de 18 anos não devem –
e não podem tomar. Ao fazer isso, você dá uma noção de que beber com essa
idade é normal e aceitável”, diz Pinsky. “Quanto mais precoce o uso do
álcool, maior o risco de dependência. O consumo de qualquer droga altera
funcionamento cerebral. Essa alteração predispõe a outros distúrbios
comportamentais”, explica a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do setor de
dependência química da Santa Casa do Rio de Janeiro.

No cérebro, o álcool age principalmente no hipocampo, pequena estrutura
localizada nos lobos temporais, principal sede da memória, segundo explica
Célia Roesler, neurologista da Academia Brasileira de Neurologia. “Quando um
adolescente bebe muito, acaba causando danos nesse hipocampo. Assim, a
memória fica ruim e prejudica o aprendizado e a motivação”, diz Roesler.

A justificativa geral dos adolescentes para o consumo da bebida durante as
saídas é a coragem. “O álcool bloqueia a inibição. Coisas que uma pessoa não
faria sóbria, ela faz alcoolizada. E isso é um grande risco”, completa
Roesler.

Os médicos são unânimes em afirmar que o corpo de um adolescente não está
preparado para ingestão de bebidas alcoólicas e que não existem doses
seguras para o consumo. “Em primeiro lugar, beber em excesso não faz bem
para ninguém. Pior para os adolescentes, que estão passando pelo período de
crescimento, em que todas as células do corpo estão se desenvolvendo. O
álcool envenena todas essas células e pode acarretar danos a todos os órgãos
em formação”, diz Mauricio Castro de Souza Lima, hebiatra (médico
especialista em adolescência) do Instituto da Criança.

Enviado por: Thais Ferreira de Oliveira

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